No último mês de novembro, Dra Alessandra Diehl, juntamente com Rogério Adriano Bosso (psicólogo), Aline Coraça Trevelin (terapeuta ocupacional) e André Almeida (empreendedor), estiveram presentes no LISBON ADDICTIONS – European Conference on Addictive Behaviours and Dependencies.
Uma conferência multidisciplinar que fornece um fórum para networking através das adições, repleto de pesquisas de ponta e conteúdo de alto nível organizado em sessões estruturadas, sessões de apresentação oral, workshops, sessões de comunicação curtas e visitas guiadas por pôsteres. O evento contou com mais de 25 palestrantes e cerca de 1.800 participantes.
Os temas abordaram as adições e saúde mental, dependência e problemas com álcool, vícios comportamentais, desafios atuais e futuros na política global de drogas, perspectivas globais sobre vícios e mercados de drogas, hepatite C, outras doenças infecciosas e danos relacionados a drogas e culturas de prevenção.
Ainda em Lisboa, tiveram a oportunidade de participar de um evento social na Associação Cultural Sirigaita no Intendente, sobre o documentário “6 Women, 1 Seed” por Larissa Lewandovski. Trata-se de um documentário contra a violência contra as mulheres que usam drogas e fazem trabalho sexual.
Com autorização de Manuel Cardoso, Subdirector Geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), puderam visitar o Serviço de Apoio Integrado (SAI), que são salas de consumo sob a gestão da psicóloga Roberta Reis, do Psiquiatra Rodrigo Coutinho e do Enfermeiro Paulo Caldeira.
O serviço nasceu por conta da epidemia de HIV causada pelo compartilhamento de seringas, precisando rever as políticas públicas sobre drogas, ficando sob a tutela do Ministério da Saúde, na área da prevenção, redução de danos, tratamento e reinserção.
Equipes de saúde itinerantes, desde 2019, levam metadona e para às pessoas usuárias para que possam fazer links com os usuários, pra oferecer ajuda. Se alguém deseja tratamento eles encaminham, pois trabalham exclusivamente no viés da redução de danos, educação pra consumo para deixar as pessoas mais organizada possível e funcional. As salas de consumo são espaços sanitários autorizados pela lei. Consta com uma equipe multidisciplinar que assiste o consumo para evitar mortes por overdose. Os atendimentos chegam em média de 180 por dia. O serviço é de portas abertas, e o prontuário tem mínimas informações e, inclusive, os usuários podem dar nomes falsos.
A equipe é formada por psicólogos, conselheiros em DQ e médicos, enfermeiros e assistentes sociais. Existe a necessidade do terapeuta ocupacional mas o profissional é escasso. Contam com trabalho voluntário de arte terapeutas. As salas são para o uso endovenoso e fumadas (crack e heroína).
A sala de fumo funciona como um espaço social para os usuários que não ficam o tempo todo fumando, mas também, socializando. Os usuários podem tomar banho, usar a internet e fazer rastreio de doenças infecto contagiosas e fazem o tratamento nesse mesmo espaço, não precisam ir até o hospital. As comorbidades são e encaminhados para um hospital. Os encaminhamentos não são rápidos. Um estudo realizado mostrou que a cada 1 euro investido nesse gera uma economia de 3 euros para a saúde, pois minimiza doenças futuras resultante do consumo de drogas. Cada um traz sua própria droga, mas não pode ter tráfico nesse espaço. Quando chegam mulheres com crianças, existe um atendimento psicossocial para entender a demanda e realizar os encaminhamentos. Média de idade é de 44 anos. Eles tem um tempo de 40 min para uso e 20 minutos permanecem após o uso. Existe uma assembleia com os usuários para discutir as regras existentes no serviço. 2021 iniciou o serviço fixo de sala assistida. O atendimento psicológico é no esquema de plantão para crise, no modelo de clínica ampliada. Homens são 86% dos usuários e 14% de mulheres. Quanto menos suporte a pessoa tem, mais ela injeta heroína. Os usuários recebem orientações sobre como injetar e, por vezes, os enfermeiros fazem o acesso, mas não podem injetar a droga por questões éticas. Os profissionais passam por supervisão semanal e cuidando dos cuidadores. Nas salas de consumo, existem cartazes de orientações para os usuários sobre risco de overdose e forma de acesso correto.
Em Marrakeshi, Marrocos, conheceram o Centro Comunitário localizado num vilarejo rural chamado Aghbalou. Centro destinado aos cuidados para pessoas com transtornos por uso de substâncias e a prevenção para as crianças. Os cuidados ainda são bem distantes dos serviços de tratamento que temos no Brasil.
As medicações são escassas e se valorizam muito o uso de ervas medicinais e a religião como formas de tratamento e proteção. O meio de sobrevivência e reinserção se dá através de trabalhos manuais e artesanatos que são conhecimentos passados pelas famílias de geração em geração.
Felizmente, a cocaína não tomou conta do vilarejo, tampouco o crack, que é pouco conhecido por aqui.
O uso maior é de tabaco, álcool, maconha, haxixe e khat, que é uma erva que pode ser fumada ou utilizada em forma de chá e tem o efeito estimulante. Essa droga é utilizada na África como um todo. O tabaco por aqui ainda é permitido em ambientes fechados.
Investir na aquisição de conhecimento e no aprimoramento constante da prática clínica é necessário para oferecermos sempre o melhor para nossos pacientes!